As pessoas podem escolher as emoções que sentem – e essas escolhas também podem enganar as interações sociais
O desejo do presidente Barack Obama por descarregar alguma fúria sobre executivos do petróleo e banqueiros pode ter um sentido bem mais profundo do que política. Milhões de pessoas vivem ou trabalham com clientes irritantemente calmos, que parecem estar com uma bateria emocional a menos, ou guardar seus sentimentos para uma ocasião especial. Pessoas que – diferente dos operadores de minas no golfo – possuem uma válvula anti-explosões que funciona bem demais.
Conforme crescemos nos tornamos mais capazes de controlar nossos impulsos
O sangue frio tem seu lugar, especialmente em meio a uma crise; mas não se pode esquecer Sigmund Freud, que descreveu a desvantagem das paixões suprimidas. Essas exortações sendo direcionadas ao presidente poderiam facilmente ser dirigidas a inúmeros colegas de trabalho, cônjuges, amigos (ou a si mesmo): perca o controle. Apenas uma vez. Veja o que acontece.
“Uma razão para estarmos tão sintonizados às emoções dos outros é que, quando se trata de uma emoção real, ela nos diz algo importante sobre o que importa para aquela pessoa”, disse o Dr. James J. Gross, psicólogo da Universidade de Stanford. Quando ela é reprimida ou amolecida, acrescentou ele, “as pessoas pensam: ‘Droga, você não é como nós, você não se importa com as mesmas coisas com as quais nós nos importamos’”.
O estudo do que os psicólogos chamam de regulação de emoções é razoavelmente recente, e por motivos óbvios tem focado muito mais em paixões indomadas do que na variedade domesticada. A emoção fugitiva define muitos problemas mentais, enquanto o comedimento é geralmente associado à boa saúde mental, da infância à velhice.
Mesmo assim, o funcionamento social é um assunto diferente. Pesquisas nos últimos anos descobriram que as pessoas desenvolvem uma variedade de ferramentas psicológicas para controlar o que expressam, e essas técnicas muitas vezes se tornam subconscientes, afetando as interações sociais de forma não intencional. Quanto mais as pessoas compreendem seus próprios padrões, maior a chance de enxergarem por que algumas interações carregadas de emoção dão errado – seja por falta de controle ou, no caso do presidente americano, talvez controle demais.
A maioria dos cientistas concorda que o temperamento inato de uma pessoa define um intervalo de expressão emocional que é possível, ou pelo menos confortável. Crescer é, sob certo prisma, uma educação viva sobre como administrar esse temperamento de forma a obter ajuda dos outros – e não atormentar a si mesmo.
“Conforme crescemos, as regiões pré-frontais do cérebro se desenvolvem, e nos tornamos mais biologicamente capazes de controlar nossos impulsos”, afirmou o Dr. Stefan Hofmann, professor de psicologia da Universidade de Boston.
Psicólogos dividem as estratégias de regulação em duas amplas categorias: preventiva, ocorrendo antes de uma emoção ser totalmente sentida, e reativa, vindo depois. O mais conhecido desta última categoria, e uma das primeiras a ser aprendida, é a simples supressão. Alunos da primeira série escondem um sorriso quando um colega faz algo constrangedor; com o tempo, muitos se tornam mais habilidosos, disfarçando automaticamente a surpresa, a preocupação e até mesmo a raiva com uma expressão indiferente.
A supressão, mesmo claramente valiosa em algumas situações (proibido rir durante um velório, por favor), tem custos sociais que são muito familiares àqueles que conhecem seu toque frio. Num estudo de Stanford, em 2003, pesquisadores descobriram que pessoas instruídas a demonstrar indiferença ao discutir um documentário sobre os bombardeios atômicos a Hiroshima e Nagasaki se tornavam parceiros de conversa especialmente tensos. Em outro estudo, publicado no ano passado, psicólogos acompanharam 278 homens e mulheres enquanto entravam na faculdade, distribuindo questionários e conduzindo entrevistas. Aqueles com as maiores notas em medições de supressão emocional tinham maiores dificuldades em fazer amigos.
“Um indivíduo que reage à transição para a faculdade se tornando emocionalmente cauteloso nos primeiros dias” provavelmente perderá oportunidades de fazer amigos, segundo os autores.
Técnicas preventivas podem funcionar de maneiras mais sutis. Uma delas é o simples desvio, ficando automaticamente nas coisas boas e ignorando as ruins; relendo o elogio numa avaliação e ignorando ou descartando quaisquer críticas. Um estudo de 2009 conduzido pelo Dr. Derek Isaacowitz, da Universidade Brandeis, descobriu que pessoas acima dos 55 anos tinham uma probabilidade muito maior de focar em imagens positivas quando de mau humor do que aqueles com menos de 25 – ajudando, consequentemente, a melhorar seu humor. O grupo mais jovem, quando se sentia nervoso ou deprimido, tinha maior probabilidade de focar em imagens negativas.
Ainda mais impressionante: Isaacowitz descobriu em outro estudo que pessoas mais velhas tinham duas vezes mais chances de ser o que ele chamou de “reguladores rápidos”, algumas vezes em questão de minutos, após ruminar sobre memórias depressivas. “Nós descobrimos, de maneira geral, que pessoas mais velhas tendem a ajustar suas emoções mais rapidamente, e não são tão motivadas a explorar informações e imagens negativas quanto os jovens”, explicou Isaacowitz, que comandou o estudo. “E faz algum sentido que os jovens adultos explorem o lado negativo das coisas, que eles precisem e talvez queiram experimentar – para experimentar a vida –, à medida que desenvolvem suas próprias estratégias de regulação”.
Socialmente falando, para resumir, a habilidade de evitar alegremente sentimentos de repulsa ou ultraje pode até combinar com um grupo mais velho, mas atinge os jovens como inautêntica, até mesmo insensível.
Finalmente, as pessoas podem escolher as emoções que sentem mais vezes do que percebem – e essas escolhas também podem enganar as interações sociais. Uma série de experimentos recentes, conduzidos pela Dra. Maya Tamir, psicóloga da Universidade Hebraica de Jerusalém e do Boston College, descobriu que as pessoas subconscientemente se fazem sentir emoções que, elas acreditam, serão mais úteis numa situação prevista. Os pesquisadores chamam isso de emoções instrumentais.
Em um experimento, publicado no ano passado, Tamir e Brett Q. Ford, do Boston College, prepararam participantes para jogar um videogame onde eles seriam caçados por monstros. Antes de jogar, os voluntários do estudo avaliaram que tipo de música gostariam de escutar, e que tipo de memória autobiográfica eles prefeririam recordar. Eles mostraram uma probabilidade muito maior de recordar memórias assustadoras, e preferiram ouvir músicas de horror, do que outros que esperavam para jogar um videogame onde iriam construir um parque temático, ou solucionar um quebra-cabeça simples. Eles estavam, segundo os autores, adotando uma emoção que lhes serviria bem durante o jogo.
Tamir encontrou resultados similares numa variedade de situações, mostrando, por exemplo, que pessoas as representando donos de terras trabalham sua raiva antes de confrontar um arrendatário a respeito do aluguel atrasado.
A compostura analítica de Obama provavelmente vem com tanta facilidade, pois lhe tem servido repetidamente bem, segundo Tamir. “Manter-se calmo, paciente e confiante é o que funcionou para você em situações de crise no passado, então essa reação pode subconscientemente se tornar automática. E quanto mais automática ela se torna, menos você sente a raiva ou pânico reais”.
Tudo isso faz com que expressar a verdadeira emoção, exatamente no momento e tom que as pessoas esperam, seja um trabalho traiçoeiro. Para pessoas como o presidente, disse Gross, de Stanford, isso significa ligar o interruptor de dois sistemas psicológicos de uma só vez: o analítico habitual (energia desligada) e o instrumental (energia ligada). “Se esse processo interrompe a expressão, mesmo que muito pouco, as pessoas percebem”, disse Gross. “Temos uma capacidade excepcional de rastrear se o momento e a morfologia de uma emoção estão corretos”.
Os mais socialmente habilidosos entre nós – aqueles que projetam as emoções que querem, quando querem – não se misturam à estratégia de ninguém, argumenta Hofmann. Num artigo publicado no mês passado com Todd Kashdan, da Universidade George Mason, ele propôs que os pesquisadores da emoção adotem um questionário para mensurar três componentes da regulação: ocultar (ou seja, suprimir), ajustar (acalmar rapidamente a raiva, por exemplo) e tolerar (expressar abertamente a emoção).
“Cada uma dessas é uma estratégia valiosa, em diferentes situações”, explicou Hofmann. “As pessoas que enfrentam problemas socialmente, eu acredito, são aquelas que são inflexíveis. As que se prendem a apenas uma”.fonte New York Times, por BENEDICT CAREY, via Ig.
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