No dia do escritor, separamos dois Sonetos de Drummond onde ele dialoga com o poeta Fernando Pessoas.
Nada mais apropriado ...
SONETILHO DO FALSO FERNANDO PESSOA
Onde nasci, morri.
Onde morri, existo.
E das peles que visto
muitas há que não vi.
Sem mim como sem ti
posso durar. Desisto
de tudo quanto é misto
e que odiei ou senti.
Nem Fausto nem Mefisto,
à deusa que se ri
deste nosso oaristo,
eis-me a dizer: assisto
além, nenhum, aqui,
mas não sou eu, nem isto.
Carlos Drummond de Andrade
In Claro Enigma
José Olympio, 1951
© Graña Drummond
AS IDENTIDADES DO POETA
(trecho)
(...)
Fernando Pessoa caminha sozinho
pelas ruas da Baixa,
pela rotina do escritório
mercantil hostil
ou vai, dialogante, em companhia
de tantos si-mesmos
que mal pressentimos
na seca solitude
de seu sobretudo?
Afinal, quem é quem, na maranha
de fingimento que mal finge
e vai tecendo com fios de astúcia
personas mil na vaga estrutura
de um frágil Pessoa?
(...)
Carlos Drummond de Andrade
In Farewell
Record, 1996
© Graña Drummond
Os dois poemas de Drummond que estabelecem um diálogo explícito com o poeta português Fernando Pessoa (1888-1935). O "Sonetilho do Falso Fernando Pessoa" veio a público em 1951. Nele, Drummond tenta escrever com "astúcias" e "fingimentos" típicos de Pessoa. Já em "As Identidades do Poeta" ― que está em Farewell, livro póstumo lançado em 1996 ―, o mestre itabirano tenta desvendar (mas no final desiste) o mistério dos múltiplos poetas residentes em "Fernando Reis de Campos Caeiro Pessoa". Via http://www.algumapoesia.com.br/
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